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Okê Arô!


 “Oxóssi é caçador de uma flecha só

Herdeiro de Iemanjá, irmão de Ogum

Aquele que na cobra dá um nó

Aquele apaixonado por Oxum.”

(Trecho do Samba-enredo “Batuque ao Caçador” de 2022 da G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel)

 

 


Foto retirada da matéria do site eu rio. In: https://eurio.com.br/noticia/34134/mocidade-de-padre-miguel-aposta-em-oxossi-na-briga-pelo-titulo.html. Acesso em: 03/01/24.

 

O ano era 2022 a escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel desfila com o samba-enredo Batuque ao Caçador para fazer uma homenagem àquele que é padrinho da escola, que o toque das suas caixas de guerra – instrumentos da bateria – é baseado no aguerê (toque consagrado ao orixá). O desfile conta a história do nosso caçador de uma flecha só - Oxóssi para quem já o conhece – como orixá para os iorubás, sendo abençoado pelo nkisi Mutalambô e parceiro de São Sebastião e

O orixá Oxóssi não é só padrinho da escola de samba Mocidade, mas também é o regente da Tenda Estrela de Oya, nossa TEEO. Sincretizado através de São Sebastião, a energia de Oxóssi ilumina o nosso terreiro trazendo a fartura da caça que se faz todos os dias em busca de alimento, espantando a miséria, revela a vida e sabedoria ao entrarmos em contato com o maior acervo de saber que existe: a floresta, a mata.

Um dos mitos que envolve esse caçador é o de ser filho de Iemanjá, irmão de Ogum e Exu (orixá) e –como diz o pequeno trecho que retirei do samba-enredo – apaixonado por Oxum, orixá da beleza, que, com ela, teve um filho chamado Logunedé. E, o grande feito que o coroou como Oxóssi é o de ser o único odé (caçador) capaz de acertar o pássaro que foi enviado para trazer dor e miséria o povo de Ifé. E fez isso tudo com apenas uma flecha, mostrando seu foco e determinação em trazer paz para aquele povo.

Oxóssi tem seu dia na umbanda e em algumas casas de candomblé no dia 20 de Janeiro e seu dia na semana é quinta-feira. Sua cor na umbanda é o vermelho, já no candomblé pode ser azul-turquesa e/ou verde-mata e seus elementos são Ofá (arco), Damatá (flecha), Erukeré. Sua saudação pode ser Òké Árò Òdé, Arolé! (Caçador de alta graduação, Viva o caçador!) e/ou Okê Arô! (Salve o Grande Caçador!).

 

 

“É Mutalambô

É Mutalambô

É o Rei Maior

O meu pai Oxóssi é caçador de uma flecha só.”

(Ponto cantado na TEEO e em outros terreiros)

 

                                                       

Foto retirada da matéria do site Alakétu Odé. In: https://alaketuode2.blogspot.com/2015/12/mutalambo-o-pai-dos-cacadores.html. Acesso em: 03/01/24.

 

Sabemos, então, que a morada desse orixá é na mata, que ele adentra a floresta para trazer para nós fartura e sabedoria. Mas é sabido pelos povos tradicionais e passado para nós que não se deve entrar lá sem estar preparado e pedir licença para os espíritos protetores desse local. Aqui no Brasil, Oxóssi cruzou com os espíritos locais da crença indígena e o nkisi dos povos de linguagem bantu.

Nkisis são as divindades que regem as forças elementares da natureza e/ou um fetiche, encanto, magia e objeto de poder. Eles fazem parte da crença de alguns povos de linguagem bantu e por fazerem parte do meio ambiente, seja ela de forma concreta (raio, montanha...) ou abstrata (caminho, fartura...), para a maioria deles, não tem forma humana. Porém, ao chegarem ao Brasil, embarcaram na onda do sincretismo e foram entrelaçados com os orixás em algumas casas do candomblé Ketu.

Mutalambô, Mutak' lombo, Mutakalambô ou Muta é o Rei de toda a Floresta, o senhor de tudo que nela existe, o dono do Ixí (Terra). Tem o domínio das partes mais profundas e densas das florestas, onde o Sol não alcança o solo por não penetrar pela copa das árvores. É visto como Caçador, vive em florestas e montanhas, nkisi de comida abundante.

Esse Nkisi, então, para os praticantes de candomblé Ketu, se assemelha ao orixá Oxóssi. A umbanda busca preservar o sincretismo existente entre os santos católicos e os orixás, porém, também há a tentativa de preservação da linguagem iorubá, do tronco linguístico bantu e indígena. Por isso vemos a mistura de linguagens e entidades em pontos cantados, por exemplo. Tudo para tentar manter viva a memória dos nossos ancestrais.

 

“...Um rio inteiro em Teu nome, meu Senhor

Quem é de Oxóssi é de São Sebastião

Quem é de Oxóssi é de São Sebastião.”

(Trecho do Samba-enredo “Batuque ao Caçador” de 2022 da G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel)



Card de Oxóssi retirado do livro Santos de casa: Fé, crenças e festas de cada dia de Luiz Antônio Simas. Feito por: Aline Bispo.

 

E falando em sincretismo, São Sebastião e Oxóssi andam de mãos dadas em diversos terreiros de umbanda. Reza a lenda que o entrelace dos dois se dá ao fato de terem, em comum, a flecha como elementos principais de sua história.

São Sebastião, ainda jovem, para o exército de Roma, onde chegou a liderar a primeira corte de infantaria dos imperadores Maximiano e Diocleciano. Por ser cristão e constantemente proteger os seus, foi condenado por alta traição e, assim, foi amarrado em uma árvore e crivado de flechas. Não foi nessa vez que São Sebastião acabou morrendo, como nenhuma flecha atingiu seus órgãos vitais, foi salvo logo depois pela esposa de um cristão condenado. Voltou no dia 20 de Janeiro e se declarou cristão para o imperador Diocleciano, foi espancado até a morte pelos soldados.

Há quem diga que as flechas representam epidemias e que, um dos milagres acerca desse santo é de que ao transportar suas relíquias para uma cidade, interrompeu a doença que se alastrava nesse lugar.

 

Huuum, será que é só a flecha que eles têm em comum? Conta para gente a sua opinião.

 

“Naquela estrada de areia aonde a lua clareou

Todos os caboclos pararam para ver a procissão

De São Sebastião

Okê, Okê, Caboclo!

Meu pai Oxóssi é São Sebastião.”

(Ponto cantado na TEEO e em outros terreiros)

 

 

Mas e a relação de São Sebastião e os caboclos?

No espiritismo de umbanda, São Sebastião ficou responsável por comandar a falange de caboclos no astral, porém, talvez essa relação tenha se fundamentado em plano terreno, principalmente, na história da nossa cidade São Sebastião do Rio de Janeiro.

A nossa baía -denominada como Guanabara pelos tupinambás que habitavam a região onde seria fundada a cidade pelos portugueses em 1565- foi batizada de Rio de Janeiro por uma expedição de reconhecimento em janeiro de 1502. Acharam que avistavam um rio e o mês era janeiro, simples assim.

Em princípio não houve tanto interesse por essa região por parte da Coroa Portuguesa, porém, uma parte dela, acabou se tornando uma preocupação pois, a partir de 1555, quando Nicolas de Villegagnon estabeleceu a França Antártica, um núcleo colonizador francês. O que foi possível graças a cooperação dos tupinambás habitantes de uma aldeia chamada Karióka, localizada aos pés do que atualmente conhecemos como Morro da Glória. 

Mem de Sá, governador geral do Brasil, organizou uma expedição com portugueses, temiminós e tupiniquins – os dois últimos, inimigos históricos dos tupinambás –, para enfrentarem o empreendimento francês, sendo parcialmente bem-sucedido.

Mas foi em 1564, que Estácio de Sá foi enviado para esse local por seu tio, Mem de Sá, com o objetivo de expulsar definitivamente os franceses e “pacificar” os tupinambás– ou seja, submetê-los, por meio da morte, escravização ou aldeamento. Chegou à região em 1º de março de 1565, fundando uma cidade no morro Cara de Cão, aos pés do Pão de Açúcar, onde hoje se encontra a Fortaleza São João, na Urca. Era um empreendimento estratégico para o fortalecimento da presença portuguesa.

É neste momento que o santo de nosso interesse entrou para a história da cidade: como era comum na tradição toponímica portuguesa associar um nome de devoção católica a algum elemento regional, a cidade foi nomeada “São Sebastião do Rio de Janeiro”. Tradicionalmente, se credita a devoção a Estácio de Sá, que teria trazido uma pequena imagem, feita para ser carregada nas embarcações e utilizada em ofícios nos portos, a entronizando na capela de taipa construída no Cara de Cão.

Dentre esses contos, outros muitos existem em relação a batalha entre os portugueses e tupinambás. Com direito a uma suposta aparição do santo católico para proteger as embarcações portuguesas; um Estácio de Sá, morrendo como um guerreiro cristão em decorrência de uma flecha disparada por um pagão, exatamente no dia de São Sebastião; o rei de Portugal, então com seis anos de idade, tinha nascido no dia do santo e fora batizado em sua homenagem e outros. E, em um desses contos, houve aquele que em que São Sebastião apareceu com uma espada na mão para lutar ao lado dos Portugueses, temiminós e tupiniquins. Sendo assim, declarado padroeiro do Rio de Janeiro do capitão Estácio de Sá.

Pois bem, podemos ver que a relação de São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro, e os caboclos que baixam nos terreiros, tem muito mais fundamento do que imaginávamos, não é verdade?

 

Depoimento de uma médium da casa sobre Oxóssi e sua energia:

“Oxóssi pra mim é a vida, a base de tudo que eu sou. Ele salvou a minha vida sem eu perceber, e eu vejo ele muito mais do que um Pai. Não tem nem como explicar.

Quando a energia dele tá perto, me sinto leve como um passarinho e feroz como uma onça. Oxóssi é a sabedoria, aquele que quando eu mais preciso.

Eu sei que posso procurar, abraçar e chorar, sem dizer uma palavra. Ele sabe de tudo que eu sinto e com um estalar de dedos ele me faz sentir criança de novo.”

(Camila Gonzalez – Curimbeira e Médium da nossa TEEO)

 

Arrepiante, não é?

 

Licença a Mutalambô!

Salve Oxóssi!

Salve os nossos caboclos!

Okê Arô!

 

Salve a umbanda!

 

Quer se aprofundar mais sobre os assuntos? Aproveita a dica aqui embaixo e se tiver outras, compartilha com a gente! Axé! ;)

 

G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel. Letra do samba-enredo Batuque ao Caçador. In: https://www.letras.mus.br/mocidade-independente-de-padre-miguel/batuque-ao-cacador/. Acesso em: 03/01/2024

ALENCAR, Agnes. A silenciosa construção de uma guerra: uma França Antártica indígena. Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. n.12, 2017, p.297-322.

KNAUSS, Paulo. Imagem de São Sebastião. In: KNAUSS, Paulo; LENZI, Isabel; MALTA, Marize (org.). História do Rio de Janeiro em 45 objetos. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2019.

FIGUEIREDO, Janaína. Nação Angola: Caboclos, Nkisis e as novas mediações. Editora: ‎Pallas; 1ª edição; 11 março 2022.

SIMAS, Luiz Antônio. Santos de casa: Fé, crenças e festas de cada dia. Ilustrações: Aline Bispo. 1ª Ed. – Rio de Janeiro. Editora: Bazar do Tempo, 2022.

 

Texto feito por: Tesla Dias – Professora, Escritora e Médium da Tenda Estrela de Oya.


Observação: o texto acima é exclusivo de sua autora, não necessariamente refletindo a opinião da instituição.

 Rua Joaquim Martins 138, Encantado - Rio de Janeiro RJ

Serão todos muito bem vindos.

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TEEO - Tenda Espírita Estrela de Oyá